Trabalhei durante 10 anos no internamento de um hospital psiquiátrico, com uma equipa fantástica de terapeutas de várias valências especializados em Pediatria. Fui pediatra do serviço e acompanhei centenas de crianças e adolescentes em sofrimento psíquico no seu grau máximo de complexidade e de gravidade. Convivi diariamente com as consequências do desamparo, da falta de afeto e da negligência em todas as suas formas. Nunca lá tive pacientes que internaram por excesso de mimos, por colo a mais, por dormirem na cama dos pais ou por serem amamentadas por mais de 2 anos. Mas experienciei com muita dor a falta disso tudo. Vi crianças que mesmo sendo espancadas pelos seus cuidadores, ainda choravam pela falta deles.
Quando olho para trás, vejo que esta experiência, associada a minha própria maternidade (que sempre é transformadora), ampliou a forma como vejo a parentalidade. Acredito no vínculo com apego e no respeito às necessidades da criança como base para uma saúde psíquica e emocional. Sem ela, a saúde do corpo não se sustenta.
A meu ver, talvez seja isto que me diferencia. Apoio a promoção da saúde emocional, que passa por ajudarmos a nossa criança a fortalecer a autoestima, a segurança e a confiança com base no apego e no amor.